Muitos de vocês terão ouvido falar da decoração mediterrânica como um estilo antiquado que se restringe à casa de férias ou de campo, no entanto, é atualmente uma das tendências predominantes associadas quer ao movimento minimalista e quer ao slowdeco. É de facto um estilo muito singular que nos permite não só decorar o interior, mas também o exterior quer de casas quer de apartamentos. Basta somente abrir o nosso olhar e deixar entrar toda a luz que emana deste estilo.
Com efeito, é um estilo que se inspira nas raízes mediterrânicas, como podemos deduzir do seu próprio nome, tendo intrínsecas ligações a continentes tão díspares como a Europa, a África ou mesmo a Ásia. Contudo, é difícil circunscrevê-lo a um único lugar. Se tivermos que encontrar pontos comuns entre as diferentes facetas deste estilo, sobressai dos países banhados pelo límpido mar mediterrânico a construção de casas com terraços ao ar livre, facto predominante para a criação de uma interligação e simbiose muito particulares entre ambientes internos e externos.
Por outro lado, podemos delinear um fio condutor deste tão miscigenado estilo que se baseia sem dúvida no seu clima seco e quente, onde o sol é rei, surgindo frequentemente associado ao mar e a uma maneira muito peculiar de viver a vida, ou melhor de sentir a vida em toda a sua plenitude e em toda a sua simplicidade.
Como poderemos então definir a decoração mediterrânica?
A resposta não é fácil, mas poderemos afirmar com segurança que na sua génese, é um estilo sobretudo de pendor rústico onde a simplicidade se associa aos materiais naturais na sua interminável variedade. A presença da luz natural associada a tons esbranquiçados, azuis e esverdeados, próprios de um ambiente marítimo, transmitem uma sensação de quietude, relaxamento e frescura.
É sem sombra de dúvida um estilo que se adapta a todos os interiores e aos diferentes lugares da casa, podendo ser caracterizado ora como uma decoração de pendor mais clássica ora mais contemporânea. A combinação heterogénea de diferentes estilos étnicos e locais permite esta capacidade camaleónica, todavia, a sua simplicidade permanece intacta, o que se adapta totalmente ao conceito muito em voga da slowdeco e do minimalismo.
Como criar um interior elegante, minimalista e contemporâneo sem a ajuda de uma decoradora?
Antes de tudo, a resposta a esta pergunta não é fechada, antes pelo contrário, encontra-se em contínua construção. Sendo assim, o ponto de partida cingir-se-á a um conjunto materiais típicos deste estilo, que surge, por sua vez, associado à natureza como a madeira, o vime, o linho, a cerâmica e as pedras que nos permitem criar de forma simples e distinta um ambiente acolhedor e essencialmente relaxante. Por seu turno, as cores dominantes desse tipo de decoração são o azul, o verde, o branco, a terracota, a cor areia e a turquesa.
No que concerne às paredes e ao chão, tudo depende das divisões, porém, dever-se-á privilegiar a cerâmica, com destaque para os azulejos de tonalidade azul e esverdeada ou de tons de creme. O piso de madeira é igualmente uma opção muito interessante.
Ao nível do mobiliário, as madeiras deverão ser naturais, privilegiando-se a madeira de oliveira que deve estar numa singular harmonia com os tons quentes da terra. É frequente (re)utilizar móveis antigos como armários ou uma mesa de madeira maciça que traz agarrada a si uma primitiva beleza. E porque não adornar a mesa com azulejos? A imaginação não tem fim como o próprio mediterrâneo…
As cortinas querem-se de preferência compridas e leves como se fossem o véu de um navio. As cores brancas com adornos leves de azul marinho são os preferidos, porém, nada nos impede de trazer tonalidades mais ousadas, ainda que possa haver um preço a pagar por tal ousadia: a perturbação da serenidade e da harmonia luminosa.
Se entrarmos especificamente em divisões como a sala de estar, podemos afirmar com a segurança devida que os sofás e os cadeirões de vime, ou mesmo de couro, deviam ser presença obrigatória com almofadas de tons dourados ou de cores mais alaranjadas.
Por seu turno, nos quartos dever-se-á priorizar a luz natural para a criação de um ambiente sereno propiciador de momentos de relaxamento e de comunhão íntima. Poder-se-á dar igualmente destaque à inclusão de espelhos estrategicamente colocados. Para um ambiente natural e ecológico, a colocação de vasos de terra cota pode ser uma opção relevante. Os móveis poderão ser de madeira, preferencialmente de cor creme, ou de outros materiais naturais como o vime e a palha. Para finalizar e dar um toque de requinte, a opção por tecidos leves para as almofadas, tapetes e cortinas, principalmente em tons de branco e azul, é uma tomada de decisão acertada.
Passando agora pela decoração da cozinha, que é a alma de uma casa dita mediterrânica, a aposta deve recair sobre a sua capacidade em ser acolhedora, reconfortante e luminosa. Tudo com o intuito de proporcionar a criação de um ambiente leve, com circulação livre e luz natural abundante, algo que é frequentemente desprezado na maioria das nossas cozinhas. Claro que a dimensão do espaço desempenha neste âmbito um papel preponderante, contudo, os azulejos de tons claros, que vai desde o branco ao creme com laivos de azul ou verde, podem ser um excelente contributo para uma ambiência luminosa de requinte. Por outro lado, móveis antigos recuperados são a cereja no topo do bolo. Quantos mais velhos, mais histórias terão para contar. É de notar que os móveis usados estão cada vez mais em voga por serem não só um bom negócio aquando da sua aquisição, mas também pelo facto de se poder possuir verdadeiras obras de arte. Em função da dimensão da divisão, poder-se-á optar por uma mesa de madeira familiar ou por uma ilha. Em vez da madeira como a oliveira ou o carvalho, a pedra como tampo de mesa pode ser uma feliz escolha. No respeitante à iluminação artificial, os candeeiros de bambu ou de vime para tornar a cozinha num espaço ensolarado podem ser uma opção acessível e bastante elegante. Por fim, nunca é demais relembrar que uma cozinha sem os seus devidos utensílios é uma cozinha inerte. Assim, não poderá igualmente faltar as famigeradas colheres de madeira, ainda que as mesmas possam ser substituídas por colheres de plástico de tons brancos ou creme. Como extra e como demonstração de bom gosto, a distribuição de vasos de terra cota pelos cantos da cozinha ou colocados em lugares privilegiados com plantas ou oliveiras dão o toque definitivo para a criação de um meio natural.
Chegados à casa de banho, impõe-se obrigatoriamente a presença de cerâmica nas paredes e no chão em tons de uma branca serenidade. A louça sanitária poderá ser versátil ou então seguir a linha mais tradicional.
Como pudemos verificar, a decoração mediterrânica privilegia tonalidades coloridas com a finalidade de conseguir um ambiente marcante por um lado e funcional por outro, no entanto, há determinados erros que se devem evitar. Um deles é com certeza a escolha de cores extravagantes. Deve claramente eleger-se o branco, o creme e o azul claro. A simplicidade visual e minimalista são também o ex-líbris deste estilo.
Decorar uma casa num estilo mediterrânico é facilmente replicável, seja numa casa ou num apartamento. A época em que era necessário ter uma casa de praia ou de campo já lá vai. É com certeza um estilo que preenche bem as necessidades do bom gosto e requinte aliado a uma cultura do minimalismo e bem-estar que cada vez tem colhido adeptos. Há claramente uma frase de Fernando Pessoa que define a arte que é a decoração mediterrânica. ” Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.”
Alexandre Luís